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A ORDO SALUTIS - LOUIS BERKHOF

Fonte: Teologia Sistemática Louis Berkhof Editora Cultura Cristã

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Os alemães falam em “Heilsaneignum”, os holandeses em “Heilsweg” e “Orde de Heils” e em inglês temos “Way of Salvation”. A ordo salutis descreve o processo pelo qual a obra de salvação, realizada em Cristo, é concretizada subjetivamente nos corações e vidas dos pecadores. Visa a descrever, em sua ordem lógica e também em sua inter-relação, os vários movimentos do Espírito Santo na aplicação da obra de redenção. A ênfase não recai no que o homem faz, ao apropriar-se da graça de Deus, mas no que Deus faz, ao aplicá-la. Não é nada mais que natural que os pelagianos se oponham a este conceito. O desejo de simplificar a ordo salutis levou muitas vezes a limitações infundadas. Weisaecker inclui nela somente as operações do Espírito Santo acionadas no coração do homem, e sustenta que, nem a vocação nem a justificação, podem propriamente ser incluídas nesta categoria.2 Kaftan, o mais proeminente dogmático da escola de Ritschl, é de opinião que a ordo salutis tradicional não constitui uma unidade interna e, portanto, deveria ser dissolvida. Ele trata da vocação sob a Palavra como meio de graça; da regeneração, da justificação e da união mística sob a obra redentora de Cristo; e relega a conversão e a santificação aos domínios da ética cristã. O resultado é que só fica restando a fé, e esta constitui a ordo salutis.1 Segundo ele, a ordo salutis só deve incluir o que é exigido da parte do homem para a salvação, e isso é a fé, a fé somente – um ponto de vista puramente antropológico, o que provavelmente encontra a sua explicação na tremenda ênfase da teologia luterana à fé ativa. Quando falamos de uma ordo salutis, não nos esquecemos de que a ação de aplicar a graça de Deus ao pecador individual é um processo unitário, mas 2 Cf. McPherson, Chr. Dogm., p. 368. 1 Dogm., p. 651. MATERIASDETEOLOGIA.COM

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simplesmente ressaltamos o fato de que é possível distinguir vários movimentos no processo, que a obra de aplicação da redenção segue uma ordem definida e razoável, e que Deus não infunde a plenitude da Sua salvação ao pecador num ato único. Fizesse isso, a obra de redenção não viria à consciência dos filhos de Deus em todos os seus aspectos e em toda a sua plenitude divina. Tampouco perdemos de vista o fato de que muitas vezes utilizamos os termos empregados para descrever os diversos movimentos num sentido mais limitado que o da Bíblia. Pode-se levantar a questão sobre se a Bíblia alguma vez indica uma ordo salutis definida. A resposta é que, embora ela não nos dê explicitamente uma ordem da salvação completa, oferece-nos base suficiente para a referida ordem. A melhor aproximação a algo como uma ordo salutis na Escritura é a declaração de Paulo em Rm 8.29,30. Alguns teólogos luteranos baseavam artificialmente a enumeração dos vários movimentos na aplicação da redenção em At 26.17,18. Mas, conquanto a Bíblia não nos dê uma nítida ordo salutis, ela faz duas coisas que nos ajudam a elaborar uma ordem. (1) Dá-nos uma completa e rica enumeração das operações do Espírito Santo na aplicação da obra realizada por Cristo a pecadores individuais, e das bênçãos da salvação comunicadas a eles. Ao fazê-lo, ela nem sempre usa os termos empregados na dogmática, mas freqüentemente recorre ao uso de outros nomes e figuras de linguagem. Além disso, muitas vezes ela emprega termos que vieram a adquirir sentido técnico muito definido na dogmática, de forma muito mais ampla. Palavras como regeneração, vocação, conversão e renovação, repetidamente servem para designar toda a transformação que se opera na vida interior do homem. (2) Ela indica, em muitas passagens e de muitas maneiras, a relação que os diferentes movimentos atuantes na obra de redenção mantêm uns com os outros. Ela ensina que somos justificados pela fé, e não pelas obras, Rm 3.30; 5.1; Gl 2.16-20; que, sendo justificados, temos paz com Deus e acesso a ele, Rm 5.1,2; que ficamos livres do pecado para tornar-nos servos da justiça, e para colhermos o fruto da santificação, Rm 6.18,22; que, quando somos adotados como filhos,* recebemos o Espírito, que nos dá segurança, e também nos tornamos co-herdeiros com Cristo, Rm 8.15-17; Gl 4.4-6; que a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus, Rm 10.17; que a morte para a lei redunda em vida para Deus, Gl 2.19,20; que, quando cremos, somos selados com o Espírito de Deus, Ef 1.13, 14; que é necessário andar de modo digno da vocação com que somos chamados, Ef 4.1,2; que, tendo obtido a justiça de Deus pela fé, participamos dos sofrimentos de Cristo, também do poder da ressurreição, Fp 3.9,10; e que somos

* Adoção de filhos, no grego hyothesia. Sua natureza, quanto aos cristãos, pode ser mais bem entendida à luz de passagens como Jo 1.12; Ef 2.1-10; 1 Jo 3.1,2, inclusas as citadas por Berkhof. Nota do tradutor. MATERIASDETEOLOGIA.COM

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gerados de novo mediante a Palavra de Deus, 1 Pe 1.23. Estas passagens e outras semelhantes indicam a relação dos vários movimentos da obra redentora, uns com os outros, e, assim, dão base para a elaboração de uma ordo salutis. Em vista do fato de que a Bíblia não especifica a ordem exata seguida na aplicação da

obra de redenção, há naturalmente amplo espaço para diferenças de opinião. E, de fato, as igrejas não estão todas de acordo quanto a ordo salutis. A doutrina da ordem da salvação é fruto da Reforma. Dificilmente se achará nas obras dos escolásticos algo que se lhe assemelhe. Na teologia da Pré-Reforma pouca justiça é feita a soteriologia em geral. Ela não constitui um lócus separado, e suas partes constitutivas são discutidas sob outras rubricas, mais ou menos como disjecta membra (membros diversos). Mesmo os maiores escolásticos, como Pedro Lombardo e Tomaz de Aquino, passam diretamente da discussão da encarnação para a da igreja e dos sacramentos. O que se pode chamar de soteriologia consiste apenas de dois capítulos, de Fide et de Poenitentia (Da Fé e Do Arrependimento). As bona opera (boas obras) também recebem considerável atenção. Desde que o protestantismo teve como ponto de partida a crítica e a remoção do conceito católico romano de fé, arrependimento e boas obras, era simplesmente natural que o interesse dos Reformadores se centralizasse na origem e desenvolvimento da nova vida em Cristo. Calvino2 foi o primeiro a agrupar as várias partes da ordem da salvação de maneira sistemática, mas mesmo a sua formulação, diz Kuyper, é um tanto subjetiva, visto que salienta formalmente a atividade humana, e não a divina.3∗ Posteriormente, os teólogos reformados (calvinistas) corrigiram este defeito. As seguintes exposições da ordem da salvação refletem as concepções fundamentais do método de salvação que caracterizam as diversas igrejas, desde a Reforma. 2 Vide um bom resumo da posição de Calvino quanto à ordo salutis em Berkhof, The History of Christian Doctrines, p. 224,225. Nota do tradutor. 3 Dict. Dogm., De Salute, p. 17,18. ∗ Quanto à posição de Kuyper de que a ênfase de Calvino é à atividade humana, é estranha essa opinião, porque as exposições básicas de Calvino a contrariam. Ver, e.g, Institutas, Livro III, cap. I e cap. II. Traduzo e transcrevo algumas expressões significativas: “Devemos ver agora de que modo nos tornamos possuídos das bençãos que Deus conferiu ao Seu unigênito Filho, não para uso particular, mas para enriquecer os pobres e necessitados. E a primeira coisa a que devemos dar atenção é que, se estivermos sem Cristo e separados dele, não teremos nem o menor benefício daquilo que Ele sofreu e fez pela salvação da espécie humana. Para comunicar-nos as bençãos que Ele recebeu do Pai, Ele precisava tornarse nosso e habitar em nós” (III, I, 1). Calvino cita 1 Pe 1.2 e 1 Co 6.11 para argumentar que o derramamento do sangue de Cristo só não será vão se formos lavados pela “secreta purificação do Espírito Santo”, e termina esse ponto dizendo que “o Espírito Santo é o laço pelo qual Cristo se une efetivamente a nós” (ibid). – O assunto que poderia dar margem ao julgamento de Kuyper é o da fé, que Calvino define em termos de conhecimento. Mas este conhecimento se deve à ação divina. Observe-se esta definição colhida da extensa exposição que o Reformador faz da fé: Fé “é um firme e seguro conhecimento do favor divino para conosco, fundado na verdade da livre promessa em Cristo, e revelada a nossas mentes e selada em nossos corações pelo Espírito Santo” (III, II, 7). Duas observações: Utilizei a tradução inglesa de H. Beveridge, edição de 1964 (estas anotações as fiz em 1968, quando professor no SPS); os grifos são meus. Nota do tradutor. MATERIASDETEOLOGIA.COM

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1. O CONCEITO REFORMADO (CALVINISTA). Partindo do pressuposto de que a condição espiritual do homem depende do seu estado, isto é, da sua relação com a lei; e que é somente com base na imputada justiça de Jesus Cristo que o pecador fica livre da influência corruptora e destrutiva do pecado, a soteriologia reformada (calvinista) toma o seu ponto de partida na união estabelecida no pactum salutis (aliança da redenção) entre Cristo e aqueles que o Pai Lhe deu, em virtude da qual há uma imputação eterna da justiça de Cristo àqueles que Lhe pertencem. Em vista desta prioridade do legal sobre o moral, alguns teólogos, como Maccovius, Comrie, A. Kuyper e A. Kuyper Jr. Começam a ordo salutis com a justificação, e não com regeneração. Ao fazê-lo, aplicam o nome “justificação” também à imputação ideal da justiça de Cristo aos eleitos no eterno conselho de Deus. O dr. Kuyper diz, ademais, que os reformados diferem dos luteranos em que aqueles ensinam a justificação per justitiam Christi (pela justiça de Cristo), ao passo que estes dizem que a justificação per fidem (pela fé) completa a obra de Cristo.4 Contudo, em sua grande maioria, os teólogos reformados, embora pressupondo a imputação da justiça de Cristo no pactum salutis, discutem somente a justificação pela fé na ordem da salvação, e naturalmente fazem a discussão disso em conexão com a da fé ou imediatamente depois desta. Eles principiam a ordo salutis com a regeneração ou com a vocação e, assim, salientam o fato de que a aplicação da obra redentora de Cristo é, em seu início, uma obra de Deus. Segue-se a isto uma discussão da conversão, na qual a obra da regeneração penetra a vida consciente do pecador, e ele se volta do ego, do mundo e de Satanás para Deus. A conversão inclui o arrependimento e a fé, devido à sua grande importância, esta é geralmente estudada separadamente. A discussão da fé leva naturalmente à da justificação, considerando que esta nos é mediada pela fé. E porque a justificação coloca o homem numa nova relação com Deus, levando junto consigo a dádiva do Espírito de adoção e impondo ao homem uma nova obediência, e também lhe dando capacidade para fazer de coração à vontade de Deus, a obra de santificação é considerada logo a seguir. Finalmente, conclui-se a ordem da salvação com a doutrina da perseverança dos santos e a sua glorificação final. Bavinck distingue três grupos de bênçãos da salvação. Começa dizendo que o pecado é culpa, corrupção e miséria, pois envolve rompimento da aliança das obras, perda da imagem de Deus e sujeição ao poder da corrupção. Cristo livrou-nos dos três males com o Seu sofrimento, satisfazendo as exigências da lei e com a Sua vitória sobre a morte. Conseqüentemente, as bênçãos de Cristo consistem dos seguintes fatos: (a) Ele restabelece a relação correta do homem com Deus e com todas as 4 Dict. Dogm., De Salute, p. 69. MATERIASDETEOLOGIA.COM

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criaturas pela justificação, incluindo o perdão dos pecados, a adoção de filhos, a paz com Deus e uma gloriosa liberdade. (b) Ele renova o homem à imagem de Deus pela regeneração, pela vocação interior, pela conversão, pela renovação e pela santificação. (c) Ele preserva o homem para a sua herança eterna, livra-o do sofrimento e da morte, e lhe dá posse da salvação eterna pela preservação, pela perseverança e pela glorificação. O primeiro grupo de bênçãos nos é concedido pela iluminação do Espírito Santo, é aceito pela fé e põe em liberdade a nossa consciência. O segundo nos é dado pela obra regeneradora do Espírito Santo, renova-nos e nos redime do poder do pecado. E o terceiro nos vem pela obra de preservação, direção e selagem do Espírito Santo, como o penhor da nossa completa redenção, e nos liberta, corpo e alma, do domínio da miséria e da morte. O primeiro grupo nos unge como profetas, o segundo, como sacerdotes, e o terceiro, como reis. Em conexão com o primeiro, olhamos retrospectivamente para a obra consumada por Cristo na cruz, onde os nossos pecados foram expiados; em conexão com o segundo, olhamos para as alturas, para o Senhor que vive no céu e que, como Sumo Sacerdote, está assentado à destra do Pai; e em conexão com o terceiro, olhamos prospectivamente, para a futura vinda de Jesus Cristo, quando Ele sujeitará todos os inimigos e entregará o reino ao Pai. Há algumas coisas que devemos Ter em mente, com relação a ordo salutis, como esta aparece na teologia reformada (calvinista). a. Alguns termos nem sempre são empregados no mesmo sentido. O termo justificação limita-se geralmente ao que se chama justificação pela fé, mas às vezes se lhe dá um sentido que abrange uma justificação objetiva dos eleitos na ressurreição de Jesus Cristo e a imputação da justiça de Cristo a eles no pactum salutis. Igualmente a palavra regeneração, que agora geralmente designa o ato de Deus pelo qual Ele infunde o princípio da nova vida no homem, também é empregada para designar o novo nascimento ou a primeira manifestação da nova vida, e na teologia do século dezessete ela ocorre freqüentemente como um sinônimo de conversão, ou mesmo de santificação. Alguns falam dela como conversão passiva, em distinção da conversão propriamente dita, que, neste caso, é chamada conversão ativa. b. Várias outras distinções também merecem atenção. Devemos distinguir cuidadosamente entre os atos judiciais e os atos recriadores de Deus, aqueles (como a justificação), alterando o estado ou posição, e estes (como a regeneração e a conversão), alterando a condição do pecador; – entre a obra realizada pelo Espírito Santo no subconsciente (regeneração), e a obra realizada na vida consciente MATERIASDETEOLOGIA.COM

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(conversão); – entre aquilo que se refere ao despojamento do homem velho (arrependimento, crucificação do homem velho), e aquilo que constitui o revestimento do homem novo (regeneração e, em parte, santificação); – e entre o princípio da aplicação da obra de redenção (na regeneração e na conversão propriamente dita), e a continuação dessa aplicação (na conversão diária e na santificação). c. Em conexão com os vários movimentos atuantes na obra de aplicação devemos Ter em mente que os atos judiciais de Deus constituem a base dos Seus atos recriadores, de modo que a justificação, embora não temporalmente, é, não obstante, logicamente anterior a tudo mais; – que a obra realizada por Deus no subconsciente precede à que é realizada na vida consciente, de modo que a regeneração precede à conversão; e que os atos judiciais de Deus (justificação, incluindo o perdão de pecados e a adoção de filhos) sempre se dirigem à consciência, ao passo que, dos atos recriadores, um, a saber, a regeneração, tem lugar na vida subconsciente. 2. O CONCEITO LUTERANO. Os luteranos, embora não negando as doutrinas da eleição, da união mística e da imputação da justiça de Cristo, não têm o seu ponto de partida em nenhuma delas. Eles reconhecem plenamente o fato de que a realização subjetiva da obra de redenção nos corações e vidas dos pecadores é uma obra da graça divina, mas, ao mesmo tempo, fazem uma exposição da ordo salutis que coloca a principal ênfase naquilo que é feito a parte hominis (da parte do homem), antes que naquilo que é feito a parte Dei (da parte de Deus). Eles vêem na fé primeiramente um Dom de Deus, mas, ao mesmo tempo, fazem da fé, considerada mais particularmente como um princípio ativo no homem e como uma atividade do homem, o fator absolutamente determinante em sua ordem da salvação. Assim é que Pieper: “So kommt denn hinsichtkich der Helsaneignung alles darauf na, dass im Menschen der Glaube na das Evangelium entstehe”.5 Já foi dada atenção ao fato de que Kaftan considera a fé como sendo toda a ordo salutis. Esta ênfase à fé como um princípio ativo deve-se indubitavelmente ao fato de que a Reforma Luterana a doutrina da justificação pela fé – freqüentemente denominada princípio material da Reforma – estava ostensivamente no primeiro plano. Segundo Pieper, o luterano toma o seu ponto de partida no fato de que, em Cristo, Deus se reconciliou com o mundo da humanidade. Deus anuncia este fato ao homem no Evangelho e se oferece para colocar subjetivamente o homem na posse do perdão de pecados ou da justificação que foi realizada objetivamente em Cristo. Esta vocação sempre vem acompanhada

5 Christl. Dogm. II, p. 477. Cf. também Valentine, Chr. Theol. II, p. 258 e segtes.. MATERIASDETEOLOGIA.COM

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de certa medida de iluminação e vivificação, de modo que o homem recebe a capacidade de não resistir à operação do Espírito Santo. Muitas vezes isto resulta em arrependimento e deste decorre a regeneração, pela qual o Espírito Santo dá ao pecador a graça salvadora. Pois bem, todos estes atos, quais sejam, a vocação, a iluminação, o arrependimento e a regeneração, são na verdade apenas preparatórios e, estritamente falando, não constituem ainda as bênçãos da aliança da graça. Tem-se experiência delas independentemente de uma viva relação com Cristo, e elas servem apenas para levar o pecador a Cristo. “A regeneração é condicionada pela conduta do homem, quanto à influência exercida sobre ele”, e, portanto, “será efetuada imediatamente ou aos poucos, conforme a resistência do homem seja maior ou menor”.6 Nela o homem é revestido de uma fé salvadora pela qual ele se apropria do perdão ou da justificação objetivamente dada em Cristo, é adotado como filho de Deus, é unido a Cristo numa união mística, e recebe o espírito de renovação e santificação, o princípio vivificante de uma vida de obediência. A posse permanente de todas estas bênçãos depende da continuidade da fé – uma fé ativa da parte do homem. Se o homem continuar a crer, terá paz e alegria, vida e salvação; mas, se ele parar de exercer a fé, tudo isso se tornará duvidoso, incerto e sujeito a perde-se. Há sempre uma possibilidade de que o crente perca tudo o que possui. 3. O CONCEITO CATÓLICO ROMANO. Na teologia católica romana, a doutrina da igreja precede à discussão da ordo salutis. As crianças são regeneradas pelo batismo, mas os que conhecem o Evangelho mais tarde, recebem a gratia suffciens (graça suficiente), que consiste numa iluminação da mente e num fortalecimento da vontade. O homem pode resistir a esta graça, mas também pode dar-lhe assentimento. Se lhe der assentimento, ela se transformará numa gratia co-operans (graça cooperante). Sob a qual o homem coopera para preparar-se para a justificação. Esta preparação consiste de sete partes: (a) confiante aceitação da Palavra de Deus, (b) percepção da condição pecaminosa pessoal, (c) esperança na misericórdia de Deus, (d) o princípio do amor de Deus, (e) aversão pelo pecado, (f) a resolução de obedecer aos mandamentos de Deus, e (g) desejo de receber o batismo. É mais que evidente que a fé não ocupa um lugar importante nesse esquema, mas é simplesmente um elemento de coordenação com os outros preparativos. Ela é apenas um assentimento intelectual às doutrinas da igreja (fides informis, fé informe, sem forma determinada), e só adquire seu poder justificador através do amor infundido com a gratia infusa, isto é, graça infusa (fides caritate formata, fé formada ou completada pelo amor). Pode ser chamada fé justificadora somente no sentido de que ela é base e 6 Schmid, Doct. Theo., p. 464. MATERIASDETEOLOGIA.COM

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a raiz de toda justificação como o primeiro dos preparativos acima. Após esta preparação, a justificação tem seqüência no batismo. Este consiste da infusão da graça, das virtudes sobrenaturais, seguida pelo perdão dos pecados. A medida deste perdão é proporcional ao grau em que o pecado é realmente dominado. Deve-se ter em mente que a justificação é dada gratuitamente, e não merecida pelos preparativos prévios. O dom da justificação é preservado pela obediência aos mandamentos e pela prática de boas obras. Com a gratia infusa o homem recebe forças sobrenaturais para praticar boas obras e para, deste modo, merecer, com um merecimento de condigno (condignamente), isto é, merecimento real, toda graça subseqüente e até mesmo a vida eterna para a salvação. Mas não há certeza de que o homem reterá o perdão dos pecados. A graça da justificação pode ser perdida, não somente pela incredulidade, ma por qualquer pecado mortal. Todavia, pode ser recuperada pelo sacramento da penitência, que consiste de contrição (ou atrição) e confissão, juntamente com a absolvição e as obras de satisfação. Tanto a culpa do pecado como a punição eterna são removidas pela absolvição, mas as penalidades temporais só podem ser canceladas pelas obras de satisfação. 4. O CONCEITO ARMINIANO. A ordem da salvação elaborada pelos arminianos, embora atribuindo ostensivamente a obra da salvação de Deus, realmente a torna dependente da atitude e da obra do homem. Deus abre a possibilidade de salvação, mas cabe ao homem aproveitar a oportunidade. O arminiano considera a expiação de Cristo “como uma oblação e satisfação pelos pecados do mundo inteiro” (Pope), isto é, pelos pecados de todos os indivíduos da raça humana. Ele nega que a culpado pecado de Adão seja imputada a todos os seus descendentes, e que o homem seja por natureza totalmente depravada e, portanto, incapaz de fazer algum bem espiritual; e crê que, embora a natureza humana esteja indubitavelmente prejudicada e deteriorada como resultado da Queda, o homem ainda é capaz de, por natureza, fazer aquilo que é espiritualmente bom e de converter-se a Deus. Mas, devido à propensão para mal, à perversidade e à frouxidão da pecaminosa natureza humana, Deus lhe infunde a assistência da Sua graça. Ele concede a graça suficiente a todos os homens e os capacita a, se o quiserem, atingir a plena posse das bênçãos espirituais,e, por último,

a

salvação.

A

oferta

do

Evangelho

vem

a

todos

os

homens,

indiscriminadamente, exerce apenas uma influência moral sobre eles, enquanto que eles detêm o poder de resistir-lhe ou de render-se a ele. Se se renderem, converterse-ão a Cristo com arrependimento e fé. Estes movimentos da alma não são (como no calvinismo) resultados da regeneração, mas são meramente introdutórios ao estado de graça, propriamente assim chamado. Quando a sua fé realmente termina em

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Cristo, esta fé é por amor dos méritos de Cristo, imputada a eles para justiça. Não quer dizer que a justiça de Cristo lhes é imputada como pertencente propriamente a eles, mas, sim, que, em vista do que Cristo fez pelos pecadores, sua fé, que envolve o princípio da obediência, a sinceridade de coração e boas disposições, é aceita em lugar de uma obediência perfeita e é creditada a eles para justiça. Sobre esta base, eles são justificados, o que no esquema arminiano significa simplesmente que os seus pecados são perdoados, e não que eles são aceitos como justos.Muitas vezes os arminianos colocam o assunto desta forma: O perdão de pecados baseia-se nos méritos de Cristo, mas a aceitação da parte de Deus apóia-se na obediência do homem à lei, ou a sua obediência evangélica. A fé serve não somente para justificar os pecadores, mas também para regenerá-los . Ela garante ao homem a graça da obediência evangélica, e esta, se deixada em ação através da vida, vai dar na graça da perseverança. O arminiano wesleyano ou evangélico, assim chamado, não concorda inteiramente com o arminianismo do século dezessete. Embora a sua posição mostre maior afinidade com o calvinismo do que com o arminianismo original, também é mais incoerente. Admite que a culpa do pecado de Adão é imputada a todos os seus descendentes, mas, ao mesmo tempo, sustenta que todos os homens são justificados em Cristo e, portanto, a sua culpa é retirada imediatamente, em seu nascimento. Admite igualmente a completa depravação moral do homem em seu estado natural, mas vai adiante e ressalta que não existe nenhum homem nesse estado natural, visto que há uma aplicação universal da obra de Cristo mediante o Espírito Santo, pela qual o pecador é habilitado a cooperar com a graça de Deus. Este arminianismo dá ênfase à necessidade de uma obra supernatural (hiper-física) da graça para efetuar a renovação e a santificação do pecador. Além disso, ensina a doutrina da perfeição cristã ou da santificação completa do cristão na presente existência. Pode-se acrescentar que ao passo que Armínio fazia da dádiva da capacidade de cooperar com Deus ao homem uma questão de justiça, Wesley considerava isto como uma questão de pura graça. Este é o tipo de arminianismo com o qual temos muito mais contato. Encontramo-lo, não somente nas igrejas metodistas, mas também em grandes

partes

doutras

igrejas,

e

especialmente

indenominacionais dos nossos dias.

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nas

numerosas

igrejas

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