Acompanhamento de Técnicas na Regeneração da Floresta Estacional no Reservatório Usina Hidroelétrica de Itupararanga, Rio Sorocaba, São Paulo. Renato Borges de Carvalho¹ ; Vilma Palazetti de Almeida² ; Minoru Iwakami Beltrão³ ¹

Curso de Ciências Biologias na Pontifícia Universidade Católica, Campus Sorocaba ²

Departamento de Morfologia e Patologia, FCMS, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ³ Departamento de Ciências do Ambiente, FCMS, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Resumo: O reservatório de Itupararanga, formado pelo represamento do Rio Sorocaba (SP) é responsável por grande parte do abastecimento de água de vários municípios da região. Em uma área de pasto de 3 ha, as margens do reservatório de Itupararanga, na propriedade da Fazenda Itupararanga, Rancho Alegre, circundada de mata nativa, 20 parcelas de 20x25m foram demarcadas. Destas 20 parcelas 12 correspondem aos tratamentos apresentados nesta pesquisa, relacionado a três técnicas de recuperação de área degradada: plantio de mudas, semeadura direta e abandono. Foram plantadas 21 espécies florestais nativas (9 de preenchimento e 13 de diversidade). Após um mês do plantio obteve-se um índice de mortalidade de 8% (n=25). Foi realizada na semeadura direta 19 espécies florestais de todos os grupos ecológicos, sendo semeadas nas linhas de plantio alternadamente com 10 e 9 covas por linha, onde em cada cova foram colocadas cinco sementes da mesma espécie. Os dados preliminares de germinação (após um mês da semeadura) são: Pterogyne nitens (Amendoim bravo) (n= 123). Enterolobium contortisiliquum (Timburi) (n=69); Peltophorum dubium (Canafístula) (n=23). Com o acompanhamento periódico do crescimento e surgimento de novos indivíduos será possível verificar o manejo adequado para potencializar a sustentabilidade da floresta que está por vir. Introdução A importância da preservação ou restauração das florestas ao longo dos rios e ao redor de lagos e reservatórios esta fundamentada no amplo espectro de benefícios que este tipo de vegetação traz ao meio ambiente, exercendo função protetora sobre os recursos naturais bióticos e abióticos. Deste modo, os ecossistemas florestais ciliares estão distribuídos por longas distâncias, com faixa de vegetação contínua, ora mais estreita, ora mais larga, onde são criadas condições favoráveis para a preservação e conservação da biodiversidade. Assim, as matas ciliares atuam como corredores biológicos, ligando áreas fragmentadas e permitindo a manutenção do fluxo gênico entre populações anteriormente isoladas. O que reduz as possibilidades de extinções devido aos processos estocásticos, além de aumentar as chances de colonização Weibull et al., (2003). As formas de degradação são muito variáveis, podendo destruir totalmente ecossistemas ou apenas populações localizadas, ocorrendo perda de parte das camadas de solo ou caracterizando a perda total do solo. Diante destas variações, os níveis de degradação podem levar a uma perda total da resiliência ou apenas comprometer a sua intensidade. Os processos de restauração devem iniciar com a avaliação dos reais níveis de resiliência da localidade, detectando os níveis de perda de biodiversidade e de substrato (Galvão & Porfirioda-Silva, 2005).

Recentemente novas metodologias de reflorestamento de áreas degradadas têm sido usadas, uma das mais aceitas e a semeadura direta em linha por apresentar expressivos resultados e baixo custo de implantação (Araki, 2005), porém sendo necessárias novas aplicações desse método para seu aprimoramento. O plantio de toda uma área degradada com mudas geralmente é oneroso e tende a fixar o processo sucessional por um longo período promovendo apenas o crescimento dos indivíduos das espécies plantadas. Seja qual for á metodologia aplicada no processo de regeneração de uma mata ciliar, é necessário considerar sua auto-sustentabilidade, e isto só é possível com a facilitação dos processos sucessionais, aumentando a biodiversidade de forma a maximizar a capacidade suporte da área a ser restaurada, permitindo que rapidamente ocorra uma estabilidade dinâmica. O objetivo deste projeto foi efetuar e acompanhar o estabelecimento de novos indivíduos em diferentes procedimentos de recuperação de Floresta Estacional na margem do Reservatório de Itupararanga, utilizando as técnicas: plantio direto de mudas de essências nativas da região e semeadura direta. Para tal a área de estudo foi desenvolvida no período de um ano e meio, e acompanhada por três meses após a sua implantação final com uso de parcelas permanentes que serão objeto de futuras avaliações e estudos a serem realizados pelo Centro de Ciências Médicas e Biológicas da PUC-SP, nos aspectos de estabelecimento da flora regenerativa. Material e Métodos A bacia que deságua no reservatório de Itupararanga apresenta uso agrícola intensivo, caracterizado principalmente por pequenas propriedades dedicadas ao cultivo de olerícolas, que envolvem a utilização intensiva de pesticidas e irrigação. Para a realização do experimento foi selecionado uma área de pasto 3 ha na propriedade da Fazenda Itupararanga, Rancho Alegre, Setor 2 próximo cerca de 5 min de barco da barragem do reservatório, circundo de mata nativa que favorecia o melhor isolamento da área a ser estudada, está por sua vez foi georreferênciada nas coordenadas UTM latitude = 23° 37’ 23,64800’’S, longitude = 47° 23’ 14,46687’’ W demarcadas com estacas de madeira de 20 por 25m no total de 500m² foram locadas distanciando-se 3m uma da outra totalizando uma área de 1,54 ha da área de estudo. Dentro destas 20 parcelas 12 correspondem aos tratamentos neste trabalho apresentados, sendo 4 parcelas por tratamento de mudas, semeadura direta e controle as outras incluem as parcelas de outros tratamentos que não serão citados neste projeto (Figura 1). No intuito de minimizar o impacto e competição causada pelo pasto composto de Brachiaria decumbens e outras plantas daninhas junto aos indivíduos nos tratamentos, foi realizada uma aplicação de herbicida pós-emergente Roundup Original® de composição principal a base de Glifosato Isopropilamina, sendo aplicado através de aparato agrícola tratorizado de poder de armazenagem de 600L. O tanque foi abastecido na proporção de 1,5L para 600L /ha de herbicida. Para instalação dos tratamentos as parcelas foram gradeadas com 12 linhas distantes dois metros uma da outra no total de 144 linhas utilizando o aparato agrícola subsolador que realizou um sulco de 40 cm de profundidade sem remover o solo na superfície por toda a extensão da parcela. As covas foram realizadas por uma broca hidráulica junto ao trator que efetuou uma cova de 50 cm de profundidade e 40 cm de largura distantes 3 metros uma da outra divididas em 7 covas para a linha de espécies de preenchimento e 6 covas para a linha de espécies de diversidade, tendo um total de 312 covas sendo 78 covas por parcelas feitas em torno 6 horas de serviço.

Figura 1: Distribuição dos tratamentos de semeadura direta (Amarela), plantio de mudas (Verde) e controle (Azul) nas parcelas permanentes as margens do reservatório de Itupararanga.

Após a implantação dos tratamentos foi avaliado basicamente à estabilização das mudas no campo e a avaliação da germinação das sementes, sendo coletado os dados de altura e mortalidade das mudas e quantificando o surgimento de novos indivíduos a partir das sementes (Figura 2) As mudas foram disponibilizadas em tubetes pequenos, no total de 220 mudas de 11 espécies (Pioneiras) e 200 mudas em 10 espécies (Pioneiras e Secundárias). Já as sementes foram disponibilizadas em recipientes separados tendo o lote 8.000 sementes em 20 espécies (Pioneiras e Secundárias).

Figura 2: Disposição das mudas e medição de seus indivíduos.

A escolha das espécies usadas neste trabalho teve por base na proposta oferecida na resolução SMA 47, para o bioma de Floresta Estacional Semidecidual, sendo elas agrupadas em dois grupos funcionais “grupo de preenchimento” e “grupo de diversidade” proposta desenvolvida pelo Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal – LERF-ESALQ/USP para plantio de mudas em linhas visando um recobrimento rápido e com alta diversidade (Rodrigues et al. 2002). Neste trabalho foram utilizadas 21 espécies, onde 9 espécies para o grupo de plantio de preenchimento e 13 espécies para o grupo de diversidade sendo essencialmente 1 espécie dentro dos dois grupos (Tabela 1). Tabela 1: Espécies utilizadas para o plantio de mudas, onde G.E. é o grupo ecológico com P (Pioneiras), S1 (Secundaria inicial) e S2 (Secundaria tardia) e G.P. é o grupo de plantio que corresponde a cada espécie onde P (Preenchimento) e D (Diversidade). Nome Cientifico Pterocarpus violaceus Pterogyne nitens Anadenanthera macrocarpa Anadenanthera colubrina Schinus terebenthifolius Machaerium nyctitans Croton floribundus Cecropia pachystachya Patagonula americana Machaerium stipitatum Luehea divaricata Gochnatia polymorpha Lafoensia pacari Pseudobombax grandiflorum Syagrus romanzoffiana Zanthoxyllum rhoifolium Lafoensia glyptocarpa

Nome Comun Aldrago Amendoim-bravo Angico-vermelho Angico-branco Aroeira-pimenteira Bico-de-pato Capinxigui Embaúba Guaiuvira Sapuva Açoita-cavalo Cambará Dedaleiro Embiraçu Jerivá Mamica-de-porca Mirindiba-rosa

GE P P P P P P P P P P S1 S1 S1 S1 S1 S1 S1

GP P P P P P P P D P P&D D D D D D D D

Continuação Nome Cientifico Enterolobium contortisiliquum Myracrodruon urundeuva Jacaranda mimosifloia Cedrela fissilis

Nome Comun Timburi Aroeira-verdadeira Caroba Cedro-rosa

GE S1 S2 S2 S2

GP D D D D

Foi realizada a semeadura de 19 espécies florestais (Tabela 2) de todos os grupos ecológicos, sendo semeadas nas linhas de plantio alternadamente com 10 e 9 covas por linha, onde em cada cova foram colocadas cinco sementes da mesma espécie. Tabela 2: Lista de espécies utilizadas para a semeadura direta onde G.E. é o grupo ecológico com P (Pioneiras), S1 (Secundaria inicial) e S2 (Secundaria tardia) Nome Científico Cecropia pachystachya Pterogyne nitens Sapindus saponaria Pterocarpus violaceus Schinus terebenthifolius Peltophorum dubium Zanthoxyllum rhoifolium Ficus guaranitica Syagrus romanzoffiana Enterolobium contortisiliquum Platypodium elegans Lafoensia pacari Luehea divaricata Schizolobium parahyba Myracrodruon urundeuva Copaifera langsdorfii Cedrela fissilis Jacaranda mimosifolia Gallesia integrifolia

Nome Comum Embaúba Amendoim-bravo Sabão-de-soldado Aldrago Aroeira-pimenteira Canafístula Mamica-de-porca Figueira-branca Jerivá Timburi Amendoim-do-campo Dedaleiro Açoita-cavalo-moído Guapuruvú Aroeira-verdadeira Óleo-de-copaíba Cedro-rosa Caroba Pau-d´alho

G.E. P P P P P P S1 S1 S1 S1 S1 S1 S1 S1 S2 S2 S2 S2 S2

Resultados e Discussão. As mudas desde a sua implantação nos dias 12 e 13 de dezembro de 2007, foram acompanhadas em dois momentos no dia 23/01/08 e 27/02/08 essas datas coincidem com os dias da semana (quarta feira) que conta com o auxilio de barqueiros da CBA para a locomoção até o local de pesquisa. Através desse acompanhamento obteve-se um índice de mortalidade de 8% no total de 25 indivíduos de 312 somando todas as parcelas, sendo na parcela 2 detentora do maior índice com 10 mortes de 9 espécies diferentes, em comparação com as outras parcelas que permaneceram em um índice baixo apresentando 5 mortes. As espécies que apresentaram maior mortalidade foram 40% (n=4) Cedrela fissilis (Cedro rosa), 21% (n=6) Pterocarpus violaceus (Aldrago), 20% (n=2) Gochnatia polymorpha (Cambará), 20% (n=2) Zanthoxyllum rhoifolium (Mamica de porca), tendo respectivamente um numero total de indivíduos plantados de 10, 28, 10 e 10. A SMA (2004) salienta que a mortalidade com taxas entre 5% e 10% é aceitável, sendo esse número muito superior deve-se investigar as condições e causas para garantir o sucesso do projeto. As espécies que responderam rapidamente ao plantio direto com um aumento em altura, no intervalo de um mês de observação (período de chuvas) foram: Schinus terebenthifolius (aroeira pimenteira) com o aumento de 13,3 cm, Myracrodruon urundeuva

(aroeira verdadeira) com aumento de 8,4 cm, Enterolobium contortisiliquum (Timburi) com o aumento de 6,9 cm e a Patagonula americana (Guaiuvira) com o aumento de 6,4 cm. Para a semeadura direta obteve-se dados preliminares importantes, segundo a Tabela 4 as espécies pioneiras obtiveram um maior número de indivíduos germinados, Pterogyne nitens (Amendoim bravo) (n=123); Enterolobium contortisiliquum (Timburi) (n=69), essas duas espécies tem valores em todas as parcelas, porém a espécie Peltophorum dubium (Canafístula) (n= 23) teve um maior número de indivíduos germinados na parcela 1 podendo ser caracterizado pela maior umidade do solo visto a proximidade da represa. Já as espécies de nível de sucessão secundário inicial e secundário tardio apresentaram resultados em quase todas as parcelas. As espécies Schizolobium parahyba (Guapurúvu), Myracrodruon urundeuva (Aroeira Verdadeira) e Copaifera langsdorfii (Copaíba) apresentaram respectivamente 18,13 e 2 indivíduos, valores importantes para efetividade do processo de sucessão no campo. Conclusão O estabelecimento e crescimento dos indivíduos no campo, seja por plantio de muda ou semeadura direta, podem ser prejudicados pela ação agressiva do crescimento das plantas infestantes, o que tem sido observado em todos os tratamentos, principalmente se compararmos as áreas adubadas. A solução para este problema está na manutenção periódica dessa área, com o coroamento através de capina e corte raso da braquiária com uso de roçadeira. O atraso neste controle poderá aumentar o banco de sementes desta espécie, que já é muito grande no local. No tratamento de semeadura direta é necessário um tempo maior de acompanhamento da germinação para obter dados relevantes sobre o sucesso e sobrevivência dos indivíduos, pois todos os estágios de desenvolvimento da planta ocorrerão no campo sem interferência antrópica para sua sobrevivência e desenvolvimento, tendo sido feito apenas o necessário com a adubação, correção do solo e controle das plantas infestantes. Observa-se que de modo geral todas as espécies já se estabeleceram no campo, porém o crescimento é lento, já algumas espécies apresentaram diminuição na altura, pois as mudas sofreram injúria com os ventos fortes aparentando estarem mortas na primeira medição, porém houve rebrota tornando-se indivíduos enfraquecidos dificultando seu estabelecimento. Conclui-se que nesta fase inicial de implantação a manutenção da área foi o fator limitante para o sucesso desse trabalho, pois a periodicidade no acompanhamento do crescimento e surgimento de novos indivíduos requereu uma atenção metódica para potencializar a sustentabilidade da floresta que está por vir. Referências Bibliográficas. ARAKI, D.F. (2005). Avaliação da semeadura a lanço de espécies florestais nativas para recuperação de áreas degradadas. Dissertação de mestrado – Piracicaba: ESALQ/USP. GALVÃO, A.P.M. & PORTIFIRIO-DA-SILVA. (2005). Restauração Florestal: Fundamentos e Estudos de Caso. Curitiba: Embrapa Florestas. RODRIGUES, R.R.; GANDOLFI, S.; NAVE, A. G.; FARAH, F. T.; NOVAES, E.; PIROMAL, R. A. S.; ARAKI, D. F.; BUFO, L. V. B. (2002). Programa de adequação ambiental das propriedades rurais da Cia. Açucareira Vale do Rosário Fase II. Piracicaba: LERF/ESALQ/USP. 110p. (Relatório técnico ambiental). WEIBULL, A.N., OSTMANN, O. & GRANQVIST, A. (2003). Species richness in agroecossistems: the effect of landscape, habitat and farm management. Biodiversity and Conservation 12.

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