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CARTAS DO ACRE Em Julho de 2016, a plataforma New Generation Plantations (NGP) realizou um study tour no Acre, na Amazônia Brasileira, para analisar a função das plantações na redução de emissões e na promoção de meios de vida sustentáveis. Aqui estão algumas das coisas que observamos…
Cartas do Acre Julho 2016
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O Governo do Estado do Acre estão andando de forma bem coerente quando falamos de desenvolvimento de baixo carbono. Muitos governos falam sobre proteção do meio ambiente – mas no Acre, eles realmente estão fazendo algo real sobre esse assunto. O Governo Estadual – agora em seu quinto mandato – assumiu o poder em 1998 com uma plataforma para melhorarem os meios de vida das pessoas enquanto
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UM GOVERNO COM UMA VISÃO
se protege as florestas e se reduz as emissões dos desmatamentos. E estão avançando em ambos os aspectos. Modelos sugerem que se o Estado permitisse uma trajetória tradicional de desenvolvimento, 36% de suas florestas desapareceriam até o ano de 2030. Ao invés disso, as taxas de desmatamento caíram aproximadamente dois terços (2/3) durante essa última década, e o Acre detém 87% de cobertura florestal. Quase metade da terra é protegida por lei – incluindo os territórios dos povos indígenas e reservas extrativistas aonde as pessoas podem, de forma sustentável, colher recursos da floresta tais como borracha e Castanhas do Brasil. Mas o governo também oferece incentivos para as comunidades e proprietários de terras para apoiarem a conservação e restauração, e também para utilizarem as áreas que já foram abertas de forma mais produtiva. Enquanto isso, o PIB nesse Estado historicamente pobre e marginalizado tem aumentado, junto com outros indicadores de desenvolvimento. A última década trouxe aumentos substanciais nas taxas de alfabetização e no número de lares com eletricidade, água encanada e coleta de lixo. Hoje em dia, 92,2% das crianças completam pelo menos uma educação primária – ficando acima da média nacional. A pontuação do Acre no Índice de 0,663 em 2010. Em study tours anteriores da NGP nós podemos observar o progresso alcançado pelas empresas privadas e sociedade civil, mas o governo geralmente é conspícuo com sua ausência. Certamente esse não é o caso aqui. É inspirador ver como um governo com uma forte visão e as políticas para implementar essa visão podem construir um futuro melhor.
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Desenvolvimento Humano das Nações Unidas pulou de 0,402 em 1991 para
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Proteger e restaurar florestas nativas pode prover oportunidades socioeconômicas e também ambientais. Chico Mendes é o filho mais famoso do Acre. Um seringueiro e ativista, ele lutou para proteger a Floresta Amazônica para que as pessoas pudessem continuar ganhando seus meios de vida colhendo sustentavelmente os seus recursos. Depois de seu
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LUCRANDO COM A RESTAURAÇÃO
assassinato pelas mãos de fazendeiros em 1989, o governo estabeleceu as primeiras reservas protegidas exclusivas para esse propósito – nós tivemos bastante sorte ao podermos visitar a Reserva Extrativista Chico Mendes durante essa viagem para vermos com nossos próprios olhos. Também visitamos uma fazenda que pertence ao seu primo Nilson Mendes. Vinte anos atrás toda essa área era aberta para pastagem. O Nilson plantou aproximadamente 50 espécies de árvores frutíferas nativas, além de árvores para produção de madeira as quais poderiam ser utilizadas por seu filho para construção de sua casa. Hoje, a propriedade de 50 hectares parece uma floresta de verdade – e gera uma renda melhor do que a criação de gado geraria. A CPI, uma ONG local que trabalha com povos indígenas, também restaurou uma área de floresta nativa próximo de Rio Branco. Eles têm trabalhado com grupos indígenas para cultivarem a área, o que incluiu a incorporação de espécies produtivas como o cacau e o parente delicioso dele, o cupuaçu.
de floresta como parte de sua contribuição nacional aos esforços para mudança climática. Além de sequestrar carbono e restaurar ecossistemas, essa também poderia ser uma chance para melhorarmos os meios de vida na localidade através da inclusão de árvores frutíferas e outras espécies com valor econômico?
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O Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares
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Os povos indígenas têm utilizado sustentavelmente os recursos da Amazônia através de gerações. O Acre é o lar de aproximadamente 18.000 indígenas de 14 grupos étnicos, assim como outras quatro tribos que preferiram permanecer
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(RE)DESCOBRINDO O CONHECIMENTO INDÍGENA
isoladas sem contato algum. Os territórios indígenas cobrem um pouco mais de 3 milhões de hectares – em torno de 20% da terra no Estado. Enquanto isso pode parecer muito para alguns, os povos indígenas apenas têm a certeza de que sua terra e seus recursos fornecidos por ela não são infinitos. A CPI tem treinado os povos indígenas como agentes agroflorestais, capacitando eles para que possam cultivar na floresta. Nós vimos alguns dos resultados em seu local de demonstração. Verduras são cultivadas em áreas abertas, sua produtividade teve um grande aumento com a utilização de fertilizante orgânico caseiro e de dissuasores de praga de origem vegetal, além de plantações como o urucum, um arbusto nativo que fornece um pigmento com alta demanda das empresas alimentícias e de cosméticos. O Açaí é plantado ao redor de lagoas e suas frutas alimentam os peixes e tartarugas. Colmeias para abelhas endêmicas sem ferrão ajudam na polinização e provem uma fonte de mel. Há várias discussões na plataforma NGP sobre intensificação sustentável – então é fascinante poder ver isso acontecendo nessa escala local também, com a utilização de técnicas completamente naturais. Muitos povos indígenas foram forçados para as áreas urbanas nas e refinamento do conhecimento tradicional. Nós ficamos encantados com a participação de representantes indígenas nesse evento e ficamos honrados com o convite para irmos e visitarmos suas terras em um futuro study tour. Nós já estamos ansiosos por esse momento.
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décadas anteriores, e existe um grande interesse no redescobrimento
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As plantações em áreas já abertas oferecem múltiplos benefícios.
Enquanto as florestas ainda cobrem 87%
Similarmente, as seringueiras nativas
da área do Acre, aqueles outros 13%
provem apenas uma pequena fração
ainda representam muita terra. A política
do consumo total de borracha no Brasil,
do governo do estado é concentrar e
então existe um grande potencial para
intensificar o desenvolvimento nessas
as plantações cobrirem essa deficiência
áreas abertas, onde muitas delas são
– como as que vimos durante a visita na
atualmente pastagens degradadas para
fazenda do Proprietário Paulo Sérgio.
o gado.
Novos clones, enxertados em porta-
De 2000 até 2010, o número de gado no estado triplicou de 1 milhão para 3 milhões – através da melhora do solo e manejo dos pastos, ao invés de
enxertos de sementes naturais crescem rapidamente e são resistentes ao mal da folha que dificultou o desenvolvimento dos seringais na Amazônia no passado.
aumentar área de pastagem. Mas o
Junto com espécies nativas, o eucalipto
Acre quer diversificar e não ficar apenas
está sendo plantado para madeira
na produção de carne, encorajando
e bioenergia. As árvores podem ser
atividades como criação de espécies
colhidas já com 5-7 anos aqui, mas as
de peixes da Amazônia como o gigante
bananas, café, cacau e outras árvores
pirarucu, produção de frutas e verduras,
frutíferas plantadas simultaneamente
além da criação de porcos e aves.
podem gerar aos fazendeiros uma renda
As plantações também tem uma função
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INTENSIFICAÇÃO E DIVERSIFICAÇÃO
enquanto isso. Esses usos diversificados da terra são
vimos vários exemplos disso. José de
mais resilientes e mais lucrativos do que a
Faria transformou 300 hectares de sua
criação de gado por si só, e geram mais
fazenda em uma plantação de açaí. O
empregos: o açaí e a aquicultura geram
Açaí é nativo da Amazônia. As frutas e
quase dez vezes o número de emprego
o palmito das árvores nativas provem
por hectare se comparado com a criação
uma importante fonte de renda oriunda
de gado. E as plantações, quando elas
das reservas extrativistas, mas existe um
seguem os princípios da NGP quanto à
enorme Mercado local e internacional
integridade do ecossistema e altos valores
para esse superalimento: “nós
de conservação, também podem prover
venderemos o tanto que conseguirmos
serviços ambientais tais como sequestro
produzir”.
de carbono e controle de erosão.
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importante nesse processo, e nós
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E se a plantação de árvores pudesse ajudar a melhorar a produtividade da pastagem do gado…? Enquanto as populações e consumo aumentam globalmente, a competição por terra será intensificada – nós temos que aprender a fazer mais como menos. Isso é fácil de falar e nós temos falado isso na NGP há anos. Mas não tão fácil assim na prática… mas nós vimos um ótimo exemplo no Acre.
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MAIS COM MENOS
O Sr. João Paraná está trabalhando em parceria com a estatal Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária para desenvolver um sistema integrado de agricultura-pecuária-floresta em sua propriedade. Isso envolve a plantação de linhas com espécies de árvores nativas dentro da área de pastagem do gado, que também pode ser combinada com lavouras enquanto as árvores estão crescendo. É um sistema que a Embrapa está com projetos piloto pelo Brasil e em várias ocasiões é uma experiência ganha-ganha. Longe de querer reduzir o número de gado que pode ser criado, o sistema pode na verdade suportar o mesmo número de animais do que a melhor pastagem recuperada e consideravelmente mais do que áreas degradadas. Isso ocorre porque as árvores ajudam a restaurar o solo e a melhorar o conteúdo de proteína no pasto. Eles também oferecem sombras que são muito importantes para que o gado possa se proteger do sol tropical escaldante, melhorando o bem estar animal e as taxas de crescimento simultaneamente. Madeira também podem potencialmente oferecer uma fonte de renda extra para os produtores – embora os benefícios ambientais, tal como armazenamento de carbono nas árvores e também no solo, sejam possivelmente ainda mais valiosos.
sistema não está sendo adotado em todos os lugares. Os Governos e empresas em todo o mundo precisarão fazer tudo que for possível se eles quiserem alcançar as ambições do acordo do clima de Paris: aumentando a produção em alguns dos milhares de hectares de pastagens degradadas no Brasil e em outros lugares de uma forma que também reduza as emissões de carbono seria algo que agradaria a todos.
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As vantagens parecem tão óbvias que procuramos entender porque o
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As ideias e modelos já existem – mas como podemos levá-los a uma escala maior?
No Acre, nós vimos modelos que funcionam:
para reduzirem as emissões do desmatamento
maneiras de usarem a terra que tragam benefícios
e degradação das florestas, manejo florestal
ambientais, sociais e econômicos duradouros.
sustentável e aumenta os estoques florestais de
Mas ainda há um longo caminho a percorrer
carbono. Muitas comunidades e proprietários
para leva-los a uma escala maior. Tão importante
de terra no Acre já estão beneficiando com os
quanto, existe a necessidade de agregar valor
incentivos e apoio do REDD+ - mas essa não
na cadeia de suprimentos: através da construção
pode ser a única solução.
de instalações locais para beneficiamento, e conectando esse remoto Estado Amazônico aos mercados globais. Bons exemplos existem: uma fábrica em Xapuri utiliza borracha nativa da Reserva Extrativista Chico Mendes para fornecer preservativos ao programa federal de planejamento familiar, enquanto a WWF e parceiros fazem a conexão de seringueiros diretamente com empresas internacionais como
No momento ainda é mais fácil para os produtores no Acre conseguirem financiamento para criação convencional de gado do que para usos mais inovadores da terra, mas isso está começando a mudar. Bancos internacionais ficaram muito mais inteligentes nos últimos anos quando falamos sobre uma melhor sustentabilidade em seus empréstimos. E títulos verdes – que possibilitam aos investidores apoiarem projetos
a fabricante de tênis francesa Veja. Novamente,
com benefícios ambientais – estão entre os
o desafio é evoluir com base nesses exemplos.
produtos financeiros que crescem mais rápidos.
Para que isso aconteça, um investimento é
Poderia existir apoio do setor privado também:
necessário – e especialmente o apoio dos pequenos produtores que não conseguem fazer empréstimos com o banco e os que não conseguem visualizar um horizonte além de um ano de safra ou vendas dos gados. O Acre tem pagamento por serviços ambientais do mundo. Tem o apoio dos fundos do Governo Norueguês
por exemplo, membros do Fórum de Bens de Consumo (Consumer Goods Forum), que inclui algumas das maiores corporações multinacionais, se comprometeram para “criarem mecanismos de financiamento e outros esquemas práticos que incentivarão e assistirão países com florestas a conservarem seus ativos naturais e permitir que alcancem o objetivo de desmatamento zero.”.
além de outros canalizados pelo REDD+, o
Todas essas oferecem um potencial de transformar
mecanismo financeiro internacional que oferece
ótimas ideias em negócios prósperos que sejam
incentivos aos países com florestas tropicais
bons para as pessoas e bons para o planeta.
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provavelmente o sistema mais avançado de
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FECHANDO A LACUNA DO FINANCIAMENTO
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Relacionamentos humanos estão no centro de tudo.
Uma das coisas maravilhosas da NGP é que, além de aprendermos com o que vemos em nossos study tours, os participantes trazem conhecimento e experiência de seus próprios contextos. As empresas no Acre estão começando experimentos com a produção de eucaliptos para bioenergia: Glen Asomaning da Fundação da
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PODER DAS PESSOAS
Natureza e Desenvolvimento (Nature and Development Foundation), afiliada da WWF em Gana, está trabalhando nesse assunto com a ASPD q é participante da NGP. Membros do Fórum de Bens de Consumo (Consumer Goods Forum) estão comprometidos com o apoio ao reflorestamento, particularmente em suas cadeias de suprimento da carne: Skip Krasny da Kimberly-Clark pode explicar mais. Poderia a restauração de florestas no Acre ser apoiada através de um sistema estadual voluntário para compensação de carbono? A Sra. Li da Administração Florestal Estadual da China sabe como fazer isso funcionar; uma reunião foi rapidamente agendada. Mas não é apenas o compartilhamento de conhecimento: tão importante quanto são as interações pessoais. Nossa sessão final da semana foi uma “biblioteca humana”: nós alternamos sendo “livros” e “leitores”, com o intercâmbio de contos sobre nossas vidas e trabalhos além de reflexões sobre sustentabilidade com conversas um-a-um (com a ajuda do Felipe Brito e do Diego Damásio, nossos intérpretes fantásticos). Com 11 nacionalidades representadas, além e experiências a serem descobertas. Mas seja qual for a nossa formação, todos nós podemos descobrir um terreno em comum e criar um relacionamento um com o outro como seres humanos. Em última análise, essa é a única maneira que as pessoas terão para resolver conflitos e criar novas soluções – no Acre ou em qualquer outro lugar.
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de povos indígenas locais, houve uma grande variedade de relatos
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