Boletim informativo n. 3 Mobilizando sentimentos nas (pré) campanhas digitais em Curitiba Camila Borges
1
Sérgio Braga
2
1. O problema Com as novas normas da Lei Eleitoral, que incluí a redução do período de campanha de 90 para 45 dias, e com a proibição de financiamento de campanha através de empresas, os candidatos às eleições municipais estão investindo fortemente nas redes sociais, principalmente no Facebook, devido a sua gratuidade e poder de alcance. Como mostramos no Boletim MEME n. 01, os candidatos desenvolveram diferentes estratégias durante o período de pré-campanha
eleitoral.
Agora,
resta
examinar
outro
aspecto
do
comportamento dos pré-candidatos nesse período, ou seja, os sentimentos por eles gerados nas mídias sociais. Como
se
sabe,
a
partir
de
fevereiro
de
2016
uma
das
últimas
atualizações feitas no Facebook foi a inclusão de “reações” nas postagens. Esse recurso permite que, além do tradicional “curtir”, o usuário possa escolher qual reação ele sentiu ao ler determinada postagem. Ao todo são cinco reações adicionadas: amei
, risos
, uau
, tristeza
e raiva
.
Além disso, o Facebook passou a permitir a postagem de “emoticons”, tais como “vomitadas” e outros. O caso mais notório de manifestação através dos emoticons
foi
o
ocorrido
na
página
oficial
do
atual
presidente
da
República, Michel Temer (PMDB), que passou a receber dezenas de milhares de “vomitadas” a cada postagem efetuada após a aprovação da admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT), na Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2016. A inclusão desses novos recursos permite uma maior sofisticação nas análises sobre o comportamento social no Facebook. Assim, se anteriormente era possível a análise apenas em termos de “engajamento” [ou seja, a soma de curtidas + comentários + compartilhamentos] efetuado pelos internautas, agora é possível atribuir significados mais matizados a cada uma das
1
Jornalista. Pesquisadora voluntária do projeto MEME: E-Monitor Eleitoral, do GEIST-UFPR. E-mail:
[email protected] 2 Professor do programa de pós-graduação em ciência política da UFPR. Coordenador do grupo de pesquisa atores, instituições, comportamento político e tecnologias digitais (GEIST). E-mail:
[email protected]
postagens, analisando-as em termos de sentimentos positivos (amei, risos, uau!) ou negativos (tristeza e raiva). Nesse sentido, quais foram os principais “sentimentos” 3 provocados pelos candidatos à prefeitura durante o período de pré-campanha em julho de 2016? Eles provocaram sentimentos positivos, negativos ou de indiferença nos cidadãos? O que essas reações podem agregar à nossa compreensão sobre o
comportamento
dos
pré-candidatos
nas
mídias
sociais
e
no
processo
eleitoral de uma maneira geral? 2. Método Para responder a estas perguntas efetuamos uma análise dos principais sentimentos provocados pelas postagens dos candidatos à prefeitura de Curitiba durante o mês de julho. Em primeiro lugar, faremos uma análise do total de sentimentos por dia e das tendências observadas. Em seguida, desagregaremos esta análise por candidatos. À guisa de ilustração do tipo de análise realizada, podemos exibir a evolução dos sentimentos manifestados na linha do tempo do presidente Michel Temer durante o ano de 2016. Essa análise está exemplificada no gráfico abaixo. Gráfico 1 – Sentimentos na timeline de Michel Temer em 2016
Fonte: GEIST-UFPR
3
Mobilizar sentimentos no eleitorado tem sido um dos elementos fundamentais em campanhas eleitorais. Para uma introdução a este tópico de pesquisa, vale conferir “Emoções ocultas e estratégias eleitoras”, de Antonia Lavareda (Editora Objetiva, 2009). 2
Pelo gráfico podemos observar três momentos distintos dos sentimentos em relação a Michel Temer nas mídias sociais: a) um primeiro momento, onde predominou
ligeiramente
um
sentimento
de
indiferença,
sem
grandes
manifestações, até o fim de março; b)um segundo momento, que vai de abril de 2016 a meados de junho, onde as manifestações negativas predominaram sobre as positivas, com destaque para o pico atingido pelas manifestações de ódio logo após as declarações de apoio de Temer à aprovação do pedido de impeachment na Câmara dos Deputados4; c) e, por fim, o período posterior a junho, onde as manifestações de raiva tiveram uma redução e o sentimento positivo de amor passa a predominar, indicando que a imagem de Michel Temer nas mídias sociais apresentou uma ligeira reversão a partir dessa data. 3. Resultados e evidências. No tocante à prefeitura de Curitiba indicamos anteriormente que, assim como em outras cidades brasileiras, esta ferramenta de campanha tem crescente importância nas estratégias dos candidatos. A atualização dessas redes é diária e é utilizada como vitrine de propostas e ideologias dos principais candidatos. Na coleta realizada no mês de julho, foram analisados os Facebooks dos candidatos Gustavo Fruet (PDT), Maria Victória (PP), Ney Leprevost (PSD), Rafael Greca (PMN), Requião Filho (PMDB), Tadeu Veneri (PT) e Xênia Mello (PSOL), juntamente com os então pré-candidatos Fernando Francischini (SD) e Rubens Bueno (PPS). O resultado da análise demonstrou que no mês de julho houve mais sentimentos “raiva” e “risos” do que os demais sentimentos. Os índices que medem
a
reação
“raiva”
geram
picos
que
se
sobressaem
aos
outros
sentimentos. Esses movimentos podem ser ilustrados pelo gráfico a seguir:
4 A postagem com mais manifestações de ódio (4.288) intitula-se: "O Brasil não merece desqualificação por meio de eventuais agressões à VicePresidência" e foi postada em 22 de abril de 2016. Link: https://www.facebook.com/435464776514810/posts/1078581242203157 . A mesma postagem teve até o momento da redação deste Boletim 197.443 reações de engajamento, recebendo 8.916 curtidas e 132.448 comentários, o que é uma evidência adicional do poder das mídias sociais na política. 3
Gráfico 2 – Evolução dos sentimentos nas mídias sociais na pré-campanha de Curitiba (julho de 2016)
Fonte: GEIST-UFPR O gráfico nos mostra o total de reações nas linhas do tempo dos candidatos durante o período de pré-campanha, incluindo as curtidas. Ao todo, tivemos 1.016.312 de manifestações de sentimento no Facebook, o que é um número bastante significativo. Desse total, a maior parcela foi de curtidas (897.175), seguida em terceiro lugar por “risos” (36.717), que são sentimentos associados a manifestações positivas dos internautas. Ao lado dessas, temos emoções negativas, tais como raiva (37.596) em segundo lugar e tristeza (14.523). Verificamos também um padrão bastante errático nas manifestações de sentimentos online, com picos de euforia sucedendo a períodos
de
depressão,
sem
uma
linha
de
tendência
muita
clara
na
manifestação dos sentimentos. Além disso, também foi analisada a situação individual de cada candidato. Os políticos que receberam mais reações de “raiva” em suas postagens foram: Fernando Franscichini (SD), Requião Filho (PMDB), Rubens Bueno (PPS) e Tadeu Veneri (PT). Já os políticos Gustavo Fruet (PDT), Maria Victória (PP), Ney Leprevost (PSD) e Rafael Greca (PMN) e Xênia Mello (PSOL), foram os candidatos que mais receberam a reação “amei” em suas postagens. Essas informações podem ser visualizadas na tabela abaixo.
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Tabela 1 – Sentimentos aos pré-candidatos à prefeitura de Curitiba no Facebook Fernando Francischini (SD)
Curtidas
Amor
Uau!
Risos
Tristeza
Raiva
Total
Soma
795.204
18.549
9.080
36.377
13.809
35.161
908.180
Média
2.850,19
66,48
32,54
130,38
49,49
126,03
3.255
N Gustavo Fruet (PDT)
279
279
279
279
279
279
279
Soma
14.942
531
110
63
2
108
15.756
Média
154,04
5,47
1,13
,65
,02
1,11
162
N Maria Victória (PP)
97
97
97
97
97
97
97
Soma
7.218
120
30
7
15
4
7.394
Média
120,30
2,00
,50
,12
,25
,07
123
60
60
60
60
60
60
60
Soma
16.728
227
76
15
6
19
17.071
Média
226,05
3,07
1,03
,20
,08
,26
231
74
74
74
74
74
74
74
N Ney Leprevost (PDS)
N Rafael Greca (PTN)
Soma
17.965
573
82
49
281
200
19.150
Média
185,21
5,91
,85
,51
2,90
2,06
197
97
97
97
97
97
97
97
N Requião Filho (PMDB)
Soma
7.318
91
56
49
67
396
7.977
Média
133,05
1,65
1,02
,89
1,22
7,20
145
55
55
55
55
55
55
55
N Rubens Bueno (PPS)
Soma Média N
Tadeu Veneri (PT)
67
70
32
1.150
30.022
2,68
2,80
1,28
46,00
1.201
25
25
25
25
25
25
25
7.027
189
51
70
187
530
8.054
Média
80,77
2,17
,59
,80
2,15
6,09
93
87
87
87
87
87
87
87
Soma
2.276
351
12
17
24
28
2.708
Média
28,81
4,44
,15
,22
,30
,35
34
79
79
79
79
79
79
79
897.175
20.837
9.564
36.717
14.423
37.596
1.016.312
853
853
853
853
853
853
853
N TOTAL
206 8,24
Soma N
Xênia Mello (PSOL)
28.497 1.139,88
Soma N
Fonte: GEIST-UFPR Pela tabela podemos perceber que Francischini foi o pré-candidato que, em termos absolutos, mobilizou mais sentimentos nas mídias com um equilíbrio entre sentimentos positivos e negativos. O fato de que sua candidatura não tenha sido confirmada apesar de sua forte presença nas mídias sociais, mostra o estrago feito em sua imagem por seu papel na repressão às manifestações dos professores em abril de 2015 em Curitiba. Também Rafael Grega teve uma performance semelhante à de Francischini, com um equilíbrio entre sentimentos positivos e negativos, embora com menos intensidade. Em relação aos demais candidatos, observamos um predomínio dos sentimentos positivos em Gustavo Fruet, Maria Victória, Ney Leprevost e Xênia Melo, e um predomínio de manifestações negativas em Requião Filho, 5
Rubens Bueno e Tadeu Veneri, este último refletindo a forte rejeição que a legenda do PT poderá ter no eleitorado de Curitiba ao longo da campanha. 4. Considerações finais Verificamos que a análise dos sentimentos pode nos trazer subsídios para uma caracterização adicional dos diferentes perfis de estratégia de campanha dos candidatos. Vimos candidatos com forte presença nas mídias sociais que não se sentiram seguros para jogar seu prestígio político numa campanha
eleitoral
majoritária.
Outros
também
provocaram
reações
equilibradas de amor e raiva, embora com menor grau de intensidade. Alguns tiveram predomínio de reações positivas, o que pode indicar uma baixa rejeição por parte do eleitorado e a execução de uma estratégia que evita provocar reações exacerbadas no eleitor. Por sua vez, alguns candidatos provocaram reações negativas, o que pode indicar a rejeição a aspectos de sua plataforma ou a concentração em temas mais polêmicos, que provocam reações mais intensas no eleitorado potencial. De qualquer forma, com esses novos recursos disponibilizados pelo Facebook, novos instrumentos são disponibilizados para avaliar o comportamento dos políticos e eleitores durante a campanha eleitoral. Nos próximos boletins seguiremos analisando a campanha às eleições de 2016, no Paraná e em outros estados, tendo por foco as mídias sociais. Abordaremos o tema da articulação de arenas e de quem pauta a agenda nas estratégias de campanha dos candidatos, e das estratégias de campanha em outras capitais brasileiras, tais como Porto Alegra, São Paulo e Rio de Janeiro. ´ Como citar: Borges, Camila; Braga, Sérgio. Mobilizando sentimentos nas (pré) campanhas digitais em Curitiba. Boletim informativo. MEME: e-monitor eleitoral. GEIST/UFPR, n. 3. p. 1-6. Agosto, 2016. Agradecimentos Participam da classificação semanal de dados deste projeto (embora tais dados não tenham sido utilizados neste boletim) os seguintes pesquisadores (em ordem alfabética): Alzira Angeli, Antônio Marcos Gasparin, Camila Borges, Fabrícia Vieira, João Martins, Juan A. Suhurt, Leonardo Rocha, Liza Larriera, Márcio Carlomagno, Mayara Gomes, Natália Diamante, Rosane Santana, Sérgio Tramujas e Thiago Marrano. MEME: e-Monitor Eleitoral Projeto e-monitoramento eleitoral das eleições municipais 2016 do Grupo de Pesquisa em Atores, Instituições, Comportamento Político e Tecnologias Digitais (GEIST). Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (PPGCP-UFPR).
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